Ilê funfun Àṣẹ Ceceji

O Ilè Àṣẹ Ceceji, erguido e mantido por Àlá Fúnfún — o Pano Branco de Oxalá —, foi instalado em 1906 no bairro do Pilar, cidade de Duque de Caxias. É considerado um dos primeiros a se instalar na região no início do século XX. Adepta do Candomblé praticado no Engenho Velho desde sua criação, destacou-se por manter uma tradição matriarcal em sua linha sucessória, sendo, em mais de um século de funcionamento, dirigido somente por mulheres.

Sua criadora, Dulcelina de Amorim, Mãe Dulce de Oxalá, nasceu em Salvador, Bahia, e era herdeira das tradições Tapa, trazidas da África por negros escravizados. Essa etnia é originária da região do Sahel, no oeste da África, e suas tradições culturais e espirituais mantêm-se presentes em várias cidades brasileiras.

No contexto histórico do início do século XX, as mulheres, especialmente as afrodescendentes, enfrentavam desafios significativos em uma sociedade profundamente patriarcal e marcada pela escravidão recém-abolida. No entanto, mulheres como Dulcelina desafiavam essas normas, emergindo como líderes espirituais e comunitárias em suas próprias comunidades religiosas. Sua capacidade de liderança, sua sabedoria espiritual e sua dedicação às tradições culturais afro-brasileiras a tornaram uma figura respeitada e influente em seu tempo, deixando um legado duradouro que ecoa até os dias atuais.

Sua posição como a primeira Òṣàfàlákẹ̀ — primeira mulher de Oxalá a abrir uma casa religiosa no Rio de Janeiro — quebrou, à época, barreiras de gênero e também destacou sua habilidade em transitar pelos limites sociais.

Como Yalorixá, ela não apenas administrava os rituais do Candomblé, mas também se envolveu ativamente em atividades sociais e beneficentes, como bingos e oficinas sobre a religião, demonstrando um profundo compromisso com o bem-estar e o desenvolvimento de seus filhos de santo e da comunidade em geral.