Por Redação – Terreiros do Brasil
Imagem: Internet

Em março de 2024, imagens nas redes sociais mostravam Fernando Heleodoro Brandão trajando roupas camufladas, empunhando uma pistola e posando orgulhosamente ao lado de javalis mortos, durante uma caçada noturna no município de Tapaborã (MT). A prática, embora autorizada pelo Ibama como método de manejo da espécie invasora, é amplamente criticada por organizações de defesa dos animais, que a classificam como cruel e ineficaz.

Pouco mais de um ano depois, em um movimento surpreendente e carregado de tensões políticas e éticas, Brandão foi nomeado coordenador do Núcleo Regional de Gestão e Regularidade Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado do Pará. O fato em si já causaria desconforto entre ambientalistas e defensores da vida — mas o contexto torna a nomeação ainda mais emblemática: o Pará será sede da COP30, a cúpula global sobre o clima organizada pela ONU, marcada para novembro deste ano em Belém.

A escolha de Fernando Brandão para um cargo estratégico na gestão ambiental do estado anfitrião do principal evento climático do planeta acende um alerta sobre os rumos da política ambiental brasileira. E expõe, com nitidez, as contradições entre discurso e prática de governos que, em público, defendem compromissos com a sustentabilidade, mas que, nos bastidores, mantêm alianças com setores que historicamente avançam sobre os territórios tradicionais e os bens comuns da natureza.

Garimpo, javalis e a Amazônia como campo de disputa

Brandão é conhecido no sudoeste do Pará por sua atuação como advogado de cooperativas de garimpeiros, especialmente em Itaituba — cidade apelidada de “cidade pepita” e considerada um dos maiores polos de mineração de ouro da Amazônia. Trata-se de uma região marcada por intensa atividade garimpeira, desmatamento acelerado, contaminação por mercúrio e conflitos territoriais com povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais.

É legítimo questionar: qual é o projeto de meio ambiente representado por um coordenador que atua, ao mesmo tempo, na defesa jurídica do garimpo e na gestão ambiental de um dos estados mais biodiversos do planeta?

Amazônia como vitrine (e campo de batalha)

A escolha de Belém como sede da COP30 foi anunciada com grande entusiasmo pelo governo federal e pelo governo do Pará, como uma oportunidade de “reconciliar o Brasil com o mundo” na agenda climática. Mas a presença de figuras como Brandão em cargos-chave fragiliza essa narrativa e compromete a credibilidade do país no cenário internacional.

Organizações como a Proteção Animal Mundial apontam que, mesmo autorizada, a caça de javalis é uma prática cruel que deveria ser superada por métodos mais éticos e eficazes. Em paralelo, o avanço do garimpo legal e ilegal é hoje um dos maiores vetores de destruição ambiental e violações de direitos humanos na Amazônia.

Como conciliar, então, uma política ambiental comprometida com a vida, a biodiversidade e os direitos dos povos originários e tradicionais, com a nomeação de atores que representam justamente os setores que ameaçam esses pilares?

Por que isso importa para os povos de terreiro?

O Portal Terreiros do Brasil nasceu com a missão de defender os direitos dos povos tradicionais, promover a liberdade religiosa, denunciar o racismo ambiental e combater todas as formas de violação aos territórios de axé. Quando o poder público sinaliza incoerência em sua política ambiental, os mais impactados são sempre os mesmos: povos de terreiro, ribeirinhos, indígenas, quilombolas, pescadores artesanais e agricultores de base ancestral.

Não se trata apenas de uma polêmica sobre uma foto com javalis mortos. Trata-se de denunciar que há um projeto em curso que, mesmo disfarçado de legalidade, coloca em risco os biomas, as águas, os direitos coletivos e os territórios sagrados da Amazônia e do Brasil.

Às vésperas da COP30, essa nomeação é mais do que uma escolha administrativa: é uma mensagem ao mundo. E é também um chamado à mobilização dos movimentos sociais, das comunidades tradicionais e de todos que lutam por um futuro onde a justiça ambiental seja realidade e não apenas discurso.


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